O que acontece com o cérebro na gravidez
Na Hemocord Magazine, nós falamos várias vezes sobre as alterações hormonais ocorridas durante a gestação. Além de provocar inúmeras mudanças no corpo, essas mudanças também atingem o cérebro das futuras mamães. Confira algumas delas:
Enjoos matinais – Sabe o “instinto maternal”? Essa é uma das principais mudanças causadas no cérebro da gestante, que agora cria uma relação de desejo de oferecer seu melhor ao bebê. Mas o processo começa bem antes do parto, e o principal indicativo é o temido e incômodo enjoo matinal. Apesar de não explicar completamente o fenômeno, há relação entre os enjoos e a gonadotrofina coriônica humana (hCG), um hormônio cuja função principal é manter o corpo lúteo – principal fonte do hormônio progesterona no início da gravidez – até a produção da placenta. A explicação pode estar associada a uma área específica localizada no tronco encefálico, denominada área postrema, a qual participa do controle do vômito. Curiosamente, essa área possui receptores para hCG, o qual apresenta um pico em seus níveis entre 60 a 90 dias de gestação, declinando posteriormente. Além disso, uma teoria sugere que os enjoos e o vômito representam uma resposta protetora, visto que a área postrema é capaz de detectar toxinas presentes na corrente sanguínea.
Grávida e avoada – Com a alegria da gestação, a futura mamãe começa a perceber que está ficando avoada, esquecida, de um jeito que parece anormal. A dificuldade de concentração pode estar relacionada aos enjoos e ao cansaço (que agora se torna intenso), às dificuldades para dormir e à ansiedade pela nova condição de gestante. Em um estudo publicado em 2014, pesquisadores britânicos compararam a performance de mulheres grávidas à de não-grávidas em uma tarefa de memória espacial. Os resultados do estudo mostraram que mulheres no segundo trimestre de gestação até o terceiro mês pós-parto apresentaram piores resultados na tarefa, em relação às mulheres não-grávidas. E a culpa, desta vez, pode não ser dos hormônios, pois os pesquisadores monitoraram os níveis sanguíneos de seis hormônios diferentes e não demonstraram uma associação significativa entre os hormônios avaliados e o déficit de memória. Por outro lado, um experimento realizado com roedores mostrou uma possível relação entre os níveis dos hormônios estradiol e corticosterona com os prejuízos de memória espacial observados em ratas prenhes. Além desses achados, os pesquisadores do estudo avaliaram o volume total do cérebro e os volumes de áreas cerebrais específicas, e não observaram diferenças significativas entre ratas prenhes e não-prenhes, exceto pelo hipocampo – uma estrutura essencial em processos de formação de memórias – o qual apresentou menor volume nas ratas prenhes.
Se a gestante está avoada mas também se sente triste e desmotivada, pode representar um quadro mais grave, como depressão. É fundamental conversar sobre as alterações comportamentais com o médico. Além disso, lembre-se que quanto mais se usa a memória, menos se perde. Portanto, é importante exercitar a memória, ler e aprender, em qualquer fase da vida! Além disso, medidas simples como fazer anotações do que precisa lembrar em um papel, ou reunir todas as coisas de uso frequente em um só lugar, podem facilitar a rotina.
Olfato aguçado – Já falamos no post sobre os primeiros sinais da gestação que uma das principais alterações é a elevada sensibilidade a cheiros. Do nada, a gestante começa a descobrir odores que nunca tinha percebido! Essa sensibilidade aguçada do olfato é chamada hiperosmia, e é comum em várias espécies de animais. Nas gestantes, o fenômeno se manifesta no começo da gravidez. Mulheres grávidas se tornam mais sensíveis a odores ao cozinhar, a cheiros de perfume, a odores de alimentos estragados, fumaça de cigarro e temperos, segundo pesquisadores da Universidade de Umeå, na Suécia. Nesse sentido, um estudo publicado em 2005 demonstrou que, no primeiro trimestre gestacional, as mulheres apresentam uma elevada “sensibilidade à aversão”, principalmente a alguns alimentos, em comparação às mulheres em fases finais da gestação. Os autores sugerem que essa elevada sensibilidade pode representar uma resposta de defesa contra a incorporação de agentes nocivos e patogênicos nos primeiros três meses da gestação, visto que nessa fase a supressão do sistema imune materno é máxima, além de ser considerado o período mais delicado no desenvolvimento do bebê.