Triangulação familiar: como fazer de maneira saudável?
A chegada de uma criança à família provoca as mais variadas emoções. Surpresa, ansiedade, nervosismo e, claro, o desenvolvimento do tão falado amor incondicional são alguns dos sentimentos que os pais experimentam não somente ao longo dos nove meses de gestação, como também durante o crescimento da criança.
Quando vem ao mundo, o bebê depende totalmente dos cuidados de um adulto. A mãe, que já enfrenta um período mais sensível devido à gestação e ao parto, acaba se voltando completamente à missão de suprir as necessidades fisiológicas e emocionais do bebê. O vínculo inicial do bebê se estabelece quase exclusivamente com a mãe. Aos poucos, quando a criança vai construindo a noção de que existem mais pessoas envolvidas nos cuidados e de que precisará dividir as atenções da mãe, especialmente com o pai, é que entra a triangulação familiar. Isso pode gerar dificuldades que precisam ser identificadas e resolvidas.
Quando a triangulação familiar deixa de ser saudável?
A psicóloga, psicoterapeuta e mestranda em Psicanálise: Clínica e Cultura Betina Czermainski de Oliveira explica que algumas situações podem fazer com que a triangulação não ocorra de forma saudável. “Há casos em que a mãe não permite a entrada do pai, ou o próprio pai se exclui e se afasta. Faz parte da criação de vínculos humanos, e as dificuldades variam”, pondera a profissional.
Há, também, casos em que a mãe, após o parto, experimenta sentimentos de depressão e introspecção. Nesse caso, uma terceira pessoa, seja ela o pai ou quem divide as atenções da criança com a mãe, pode exercer um papel protetor para o psiquismo do bebê, dando suporte e compensando uma interação insuficiente com a mãe, explica Betina.
Quais as possíveis formas de resolver dificuldades e equilibrar a convivência do pai e da mãe com a criança?
Betina explica que se tornar pai e mãe traz muitas fantasias e inseguranças, e pode mobilizar conflitos individuais. “A existência de uma rede de apoio para os pais é muito importante, e a troca com outras pessoas pode auxiliar nessa adaptação”, explica. Como as construções familiares são diversas, não existe uma receita ou uma fórmula mágica que possa evitar o desequilíbrio na triangulação.
A especialista recomenda o acompanhamento especializado para a correta abordagem do assunto. “Considerando os casos específicos, um psicólogo pode verificar a indicação de psicoterapia para a mãe, para o pai, para pais e bebê ou para a criança (especialmente maiores de 3 anos)”, argumenta.
Há consequências para as crianças?
Mesmo que muito pequena, a criança aos poucos compreende que a mãe não é só dela. “Mais tarde, surge a necessidade de lidar com a rivalidade e com sentimentos conflituosos que decorrem dessa constatação”, detalha a psicóloga. A entrada de uma terceira pessoa simboliza o rompimento da dependência absoluta da criança com relação à mãe, e também marca o início da socialização. Então, na verdade, se trata de uma experiência enriquecedora e saudável.
Assim como existem diversas configurações familiares, lembra Betina, também existem variações nas funções estabelecidas entre homens e mulheres pelas formas como dividem os cuidados com o bebê. “É importante salientar que o papel maternal não é prerrogativa do gênero feminino”, esclarece.