Sangue de cordão traz esperança para menino com paralisia cerebral
A vida de uma família gaúcha mudou quando o pequeno Mateus Barros Martins da Silva, então com 2 anos, se afogou ao tentar pegar um brinquedo numa piscina de armar, em 2014. Foi salvo por seu irmão, Alif Barros, 16 anos na época, mas após 40 minutos inconsciente e sem oxigênio, ficaram sequelas que comprometeram habilidades como movimento, fala e visão.
Mateus ficou internado no Hospital da Ulbra, em Canoas, em coma por 18 dias. Quando acordou, só abriu os olhos: estava incapacitado por paralisia cerebral, consequência do tempo prolongado sem oxigênio que acabou provocando lesões no sistema nervoso central do menino e comprometendo funções motoras e cognitivas.
Desde então, a mãe, Denise Janaína Barros, tem se dedicado completamente à busca de soluções para dar a seu filho uma vida plena. Largou o emprego como caixa e frentista em um posto de gasolina para lidar com a nova rotina de Mateus.
Além de ficar sem a renda, a família teve de arcar com os novos custos. O médico recomendou duas sessões de fisioterapia diárias para não atrofiar os membros do corpo, além de natação e terapia ocupacional.
“Foram 170 mil reais nos primeiros meses”, diz a mãe que, para ajudar nos custos altíssimos, a família contou com o apoio da comunidade do bairro Mathias Velho, em Canoas, onde moram. Foram realizados diversos eventos, como brechós beneficentes, quermesses e galetos paroquiais, tudo para arrecadar dinheiro.
O pai, Volmir, que estava desempregado, conseguiu emprego em março de 2015, e a mãe se uniu à filha Milena e ao filho Alif para produzir doces e vender em escolas. Tudo para arrecadar dinheiro para custear o início do tratamento, enquanto iam à Justiça para exigir o custeio do tratamento e o home care (atendimento em casa) no SUS — Sistema Único de Saúde.
Como descobriu o Hemocord
Denise demorou, mas descobriu uma possibilidade de terapia para seu filho. “Comecei a estudar alternativas para ajudar o Mateus e conheci uma mãe de Maceió cujo filho também sofre de paralisia cerebral, consequência de afogamento grave”, lembra.
Como os pais do menino da capital de Alagoas haviam armazenado o sangue do cordão do segundo filho do casal, eles tentariam realizar um tratamento experimental com as células-tronco obtidas do material coletado. Esse tipo de terapia experimental já foi realizado em estudos clínicos prévios, os quais foram publicados em revistas médico-cientificas internacionais e mostraram resultados animadores nas crianças tratadas com sangue de cordão (Min e cols, 2013; Kang e cols, 2015).
Foi aí que Denise descobriu essa possibilidade terapêutica e encontrou o Hemocord após uma busca na internet. “Visitei a empresa e fiquei muito esperançosa, pois estamos dispostos a tudo para conseguir nem que seja 1% de melhora na vida do Mateus”, revela a mãe.
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A candidata para doar o sangue de cordão poderia ser Isabele, quinta filha do casal, nascida poucos dias após o acidente com Mateus, mas segundo Denise, na época eles ainda não tinham instrução sobre o potencial do sangue de cordão. O doador, então, foi o caçula Miguel, que nasceu em novembro de 2015 e teve o sangue de cordão e o tecido de cordão coletado pela equipe do Hemocord.
Para ajudar nos custos com o novo filho, o Hemocord contratou com a Denise os doces para a festa de confraternização de 2015, além dos funcionários terem se unido para comprar fraldas para o pequeno Miguel.
“A Denise é uma verdadeira batalhadora. A amizade dela com a equipe do Hemocord começou assim que ela nos visitou e contou seu caso”, diz Gustavo Nardi, gerente comercial do Hemocord.
Transplante com células-tronco do sangue de cordão na Alemanha
Como a remuneração obtida com os doces é variável, ela luta para conseguir que o SUS financie o transplante com células-tronco do sangue de cordão na Alemanha com o doutor Arne Jensen, estimando um custo de 37 mil dólares com o procedimento, passagens, hospedagem e alimentação. Dr. Jensen, que é médico e professor da Universidade de Bochum, realizou o transplante autólogo com sangue de cordão em um menino alemão com paralisia cerebral no ano de 2009. Um estudo do caso foi publicado em 2013.
“Não tem como saber se vai dar certo se não realizarmos [o transplante]”, revela a mãe, que agora junta recursos para em abril visitar o Dr. Jensen para conversarem sobre o tratamento experimental e sobre os detalhes e viabilidade do procedimento.
Para Denise, o pior já passou. “A cada dia o Mateus melhora um pouco mais. É uma criança normal, mas o aprendizado é mais lento”, celebra a mãe contando que dois de seus filhos mais velhos — Milena e Felipe — também já assumiram responsabilidades e ajudam nos cuidados com Mateus, Isabele e Miguel.