O desenvolvimento da criança e seus desvios. Quando suspeitar que algo não vai bem?

Todos nós sonhamos com a maternidade/paternidade como uma oportunidade ímpar de nos realizarmos como seres humanos através, não só da perpetuação de nossa espécie, mas deixando marcas como mães /pais que conceberam filhos que contribuirão para tornar esse mundo maior e melhor. Mas como atingir este objetivo?
Como pais preocupados com o futuro de nossos filhos devemos desde cedo preocuparmo-nos com a gestação, o parto e o desenvolvimento neuro-psicomotor de nossos filhos.
A palavra “Desenvolvimento” refere-se ao processo de evolução biológica e psicológica que ocorre entre o nascimento e a idade adulta e que faz com que o indivíduo progrida de uma situação de dependência total para uma situação de autonomia completa. O desenvolvimento adequado se deve à interação entre fatores genéticos e fatores ambientais. É, por isso, um processo complexo e dinâmico, baseado na maturação neurobiológica e, em correlação contínua com aspectos psicológicos e sociais.
As aquisições nas várias áreas do desenvolvimento são relativamente uniformes, e seguem um encadeamento lógico, por exemplo, antes do bebê sentar vai ter de controlar a cabeça. As alterações no desenvolvimento são frequentes e, sua identificação é fundamental para o bem estar da criança e da família. Faz parte da vigilância em saúde infantil a pesquisa de sinais de alarme no desenvolvimento para um posterior encaminhamento à uma consulta especializada, ocasião na qual serão feitos diagnóstico e tratamento adequados. Os pais e cuidadores devem estar alertas para os sinais de alarme em cada idade chave do desenvolvimento no primeiro ano de vida:
Sinais de alarme no 1º semestre
3º mês
– Não controlar a cabeça; mãos persistentemente fechadas; pernas e braços rígidos em repouso; pobreza de movimentos
– Não fazer contato visual; não fixar nem seguir objetos com o olhar
– Sobressaltos com qualquer ruído
– Não sorrir; chorar e gritar quando é tocado
6º mês
– Não controlar a cabeça; não sentar com apoio; pernas rígidas e passagem direta à posição de pé quando se tenta sentar; não apoiar os pés no chão; postura muito rígida
ou muito “mole”
– Não seguir objetos; não pegar objetos (com as duas mãos); estrabismo manifesto e constante
– Não responder à voz ou ao seu nome; não vocalizar
– Não gostar de estar no colo de ninguém (prefere ficar no bercinho); ser desinteressado pelo ambiente; não sorrir e/ou dar gargalhadas; ser muito irritado e/ou inconsolável
Sinais de alarme no 2º semestre
9º mês
-Não sentar sem apoio; não estender os braços; não levantar a cabeça; quando sentado não usar as mãos para brincar; permanecer sentado e imóvel sem procurar mudar de posição
– Não transferir objetos de uma mão para a outra; não levar objetos à boca; engasgar-se com facilidade; estrabismo
– Não reagir aos sons; vocalizar monotonamente ou perder a vocalização
– Ser apático e não distinguir familiares
12º mês
-Não conseguir levantar sozinho; não engatinhar (ou forma equivalente); não aguentar o peso nas pernas; permanecer imóvel, não procurar mudar de posição
-Não usar gestos simples: apontar, abanar a cabeça; não bater dois objetos um no outro; não apontar para objetos; não pegar nos brinquedos ou fazê-lo só com uma mão; não
mastigar
- Sobressaltos com qualquer ruído; não dizer nenhuma palavra; não responder à voz
– Não fazer gestos simples como dizer adeus ou abanar a cabeça; nunca seguir a face humana;
A identificação de sinais de alarme no desenvolvimento da criança com ou sem fatores de risco conhecidos (por exemplo: prematuridade, baixo peso ao nascimento, infecção congênita) deverá sempre ser realizada levando em consideração os demais parâmetros do crescimento infantil, como o peso e a altura. Isto facilitará o diagnóstico e permitirá a intervenção precoce e a implementação de estratégias que realcem o potencial máximo de cada criança.
Liselotte Menke Barea
Prof Neurologia da UFCSPA