Estudo inédito nos EUA desenvolverá tratamento com células-tronco para a doença de Alzheimer

doença de Alzheimer

Na novela recém-encerrada “I Love Paraisópolis”, exibida na faixa das sete horas na Rede Globo, chamou a atenção dos expectadores a personagem Soraya (Letícia Spiller) que apresentou sintomas claros da doença de Alzheimer nos últimos capítulos da trama. Soraya terminou a novela com a mesma doença que sua mãe, Izabellita (Nicette Bruno), e teve de enfrentar o mesmo preconceito que lançou contra sua progenitora.
A doença também acometeu outro personagem, Severo (Tato Gabus Mendes), na também encerrada “Império”, e a baronesa Laura (Glória Menezes), em “Senhora do Destino”, ambas sucesso de audiência. A abordagem da doença de Alzheimer na dramaturgia reflete a crescente preocupação com este mal, que atinge 1,2 milhões de brasileiros segundo a Associação Brasileira de Alzheimer.

O que é doença de Alzheimer?

O Alzheimer é uma doença sem cura que prejudica as funções neurológicas de forma progressiva e irreversível. É apontada como a principal causa de demência, afetando a memória e a capacidade de aprender, ler, escrever e de resolver problemas, entre outras funções.
Atualmente, nenhum tipo de intervenção é capaz de interromper a progressão da doença de Alzheimer, e os tratamentos medicamentosos disponíveis apenas amenizam os sintomas da doença. De acordo com a biomédica do Hemocord e doutoranda em Neurociências da UFRGS, Pamela Bagatini, a doença de Alzheimer afeta principalmente pessoas idosas, e os fatores de risco de desenvolvimento da doença são: idade avançada (acima dos 65 anos), histórico familiar da doença, predisposição genética e baixo nível de escolaridade.
Por ser mais comum em pessoas idosas, a doença de Alzheimer era tratada como “velhice”, “caduquice” ou “esclerose”, mas felizmente, o avanço da ciência trouxe luz à doença, aos portadores e, principalmente, a novas formas de tratamento.

Tratamento da doença de Alzheimer com o uso de células-tronco

Uma opção de tratamento que será avaliada em um estudo clínico (em voluntários humanos) consiste na infusão de células-tronco mesenquimais em pacientes com doença de Alzheimer.
As células-tronco mesenquimais destacam-se como uma importante opção terapêutica em avaliação para o tratamento de doenças neurodegenerativas, com diversos estudos prévios demonstrando os efeitos neuroprotetores dessas células, bem como seu potencial de diferenciação em células nervosas. A doença de Alzheimer é causada por lesões características no cérebro, que levam à disfunção e morte de células nervosas em regiões cerebrais responsáveis por funções intelectuais, como aprendizado, memória e fala. Desta forma, a terapia com células-tronco mesenquimais em pacientes com Alzheimer poderá estabilizar ou até mesmo atenuar a progressão da doença.
O estudo clínico que será realizado a partir de 2016 na Miller School of Medicine, da Universidade de Miami (EUA), tem como objetivo avaliar a segurança e a eficácia da infusão intravenosa de células-tronco mesenquimais em indivíduos diagnosticados com doença de Alzheimer. De acordo com o coordenador do estudo, o médico e professor de neurologia Dr. Bernard S. Baumel, as células-tronco possuem ação anti-inflamatória muito potente, e sua infusão em pacientes com doença de Alzheimer pode ajudar a estabilizar a doença ou até mesmo gerar melhorias. Além disso, as células-tronco mesenquimais possuem capacidade de diferenciação em células nervosas, interessante para a reposição celular na doença: “Essas novas células nervosas podem ser, então, aptas a repor as células danificadas em pacientes com Alzheimer”, afirma o Dr. Baumel.

Como será feito o estudo do uso das células-tronco no tratamento do Alzheimer?

No estudo clínico, os pacientes serão divididos em três grupos de forma aleatória, ou seja, sem considerar qualquer critério, como idade, sexo etc. O primeiro grupo receberá infusão intravenosa com uma baixa dose de células-tronco (20 milhões de células), o segundo receberá infusão intravenosa com uma dose elevada de células-tronco (100 milhões de células), e o terceiro grupo receberá infusão intravenosa com placebo (termo médico para terapia inerte, sem efeito físico real). Os pacientes não serão informados a qual grupo pertencem e nem qual tratamento será aplicado, a fim de evitar qualquer tipo de interferência no resultado final.
A segurança do tratamento será avaliada 30 dias pós-infusão, e a eficácia do tratamento será avaliada periodicamente até a 52ª semana pós-infusão, por meio de diversos parâmetros, incluindo avaliações neurológicas/cognitivas, avaliações relacionadas à qualidade de vida e exames de sangue, entre outros.